O adolescente Majd Hamad, de 15 anos, filho
de uma brasileira e que vinha sendo procurando pelo Exército israelense sob
acusação de jogar pedras contra as tropas, se entregou neste domingo em uma
delegacia de polícia na Cisjordânia.
Acompanhado pela mãe, Najat
Hamad, que nasceu em Goiás, e pelo ministro-conselheiro do escritório de
Representação do Brasil em Ramallah, João Marcelo Soares, ele chegou pela manhã
ao posto policial Binyamin, perto de Ramallah.
Após cerca de uma hora de
interrogatório, durante o qual as autoridades não permitiram a presença da mãe
ou do diplomata, Majd ficou detido no local e, de lá, deverá ser transferido
para a prisão de Ofer.
De acordo com a mãe,
"quando saiu do interrogatório, estava muito nervoso e com olhos
vermelhos, mas não me deixaram falar com ele".
O adolescente é acusado de
jogar pedras contra soldados israelenses durante uma manifestação no dia 11 de
abril, nas proximidades do vilarejo de Silwad, onde mora.
Najat Hamad, nascida na cidade
de Anápolis, afirma que seu filho não participou da manifestação em questão.
"Naquele dia, eu e meu
marido decidimos não deixar Majd sair de casa, pois a situação estava tensa em
Silwad, depois que colonos de um assentamento próximo espancaram um agricultor
palestino", disse a mãe à BBC Brasil.
Segundo o porta-voz do Exército
israelense, capitão Barak Raz, "o Exército não prende ninguém à toa. Se
foi preso, é sinal de que há provas contra ele", disse citando a possibilidade
de haver vídeos, fotos ou depoimentos envolvendo o nome do adolescente.
Buscas
De acordo com o relato da mãe,
soldados israelenses invadiram a casa da familia às 2 horas da manhã do sábado
(13).
"A familia inteira estava
dormindo quando ouvimos batidas muito fortes na porta", disse a
brasileira. "Minha filha de 13 anos foi abrir e se deparou com um grupo de
soldados com fuzis apontados para a cabeça dela."
"Eles entraram rapidamente
e começaram a revistar a casa. Reuniram a nossa família na sala e começaram a
procurar nos quartos", disse a mãe.
"Eu tinha certeza de que
eles estavam procurando meu marido e fiquei muito surpresa quando um dos
soldados me disse que vieram prender Majd."
"Eu disse a ele que Majd
tinha ido dormir na casa de parentes e que ele é muito pequeno, só tem 15
anos", afirmou.
Ao fim da operação de busca, a
mãe prometeu aos militares que entregaria seu filho às autoridades israelenses
neste domingo.
Fiança
O diplomata brasileiro João
Marcelo Soares, que acompanhou a apresentação do adolescente à delegacia, disse
à BBC Brasil que "as autoridades israelenses me informaram que os
interrogatórios ainda estão em curso e, ao final, haverá uma decisão sobre o
pedido de libertação sob fiança".
"Caso o pedido seja
negado, amanhã (segunda-feira), os menores serão levados a um tribunal militar,
que deverá reconsiderar o pedido", acrescentou.
Majd Hamad foi preso juntamente
com mais quatro colegas da mesma classe, todos de 15 ou 16 anos.
Sua mãe, Najat Hamad, que
mudou-se para a Cisjordânia há 17 anos, disse que "não esperava que aqui
prendessem crianças desse jeito".
"O que são pedras diante
das metralhadoras e dos veículos blindados do Exército israelense?",
perguntou.
O Exército israelense define o
lançamento de pedras como "atentados terroristas que podem matar".
Unicef
Em março, o Fundo das Nações
Unidas para Infância (Unicef) publicou um relatório acusando Israel de violar
os direitos de crianças e adolescentes palestinos presos.
O relatório afirma que
"menores de idade palestinos detidos por militares israelenses são
sujeitos a maus tratos que violam a lei internacional".
De acordo com o Unicef, a cada
ano cerca de 700 menores palestinos, entre 12 e 17 anos, são interrogados e
detidos pelo Exército, pela polícia e por agentes de segurança de Israel.
Segundo o presidente da
Associação dos Prisioneiros Palestinos, Kadura Farez, atualmente há cerca de
200 menores palestinos presos em cadeias israelenses.
Farez disse à BBC Brasil que,
nas cadeias israelenses, os menores "têm o mesmo tratamento que os
adultos, não há prisões especiais para as crianças".
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