quinta-feira, 23 de maio de 2013

Negligência médica coloca vida de prisioneiros em risco.


Preso palestino contraiu Hepatite C na clínica da prisão israelense

(Da redação do Comitê Brasileiro de Apoio aos Presos Políticos Palestinos em Israel, com informações da Associação Addameer de Apoio aos Presos e de Direitos Humanos)


Thaer Halahleh, de Hebron, é um detento de 34 anos e fez parte de campanha de greve de fome, tática de comoção política que tem surtido algum resultado, mas, infelizmente, trazido muitos problemas de saúde aos prisioneiros palestinos. Mas não é somente devido às greves de fome que detentos tiveram a saúde debilitada. E para Halahleh, além de lidar com a greve de fome, a situação tornou-se ainda pior. Segundo o advogado da Associação Addameer de Apoio aos Presos e de Direitos Humanos, Ziad Fares, o prisioneiro contraiu hepatite C em decorrência de negligência médica por parte do sistema prisional.

Thaer teria dito a seu advogado que ele contraiu essa doença durante o interrogatório na prisão de Askalan, e que desde então vem sofrendo com dores no peito, estômago, nos dentes, nas costas e, especialmente, nos rins. A ele só foi concedido a visita de um médico após quinze dias de interrogatório contínuo, 24 horas por dia. Nesta ocasião , um dentista realizou a extração de um dente da parte superior esquerda molar, e foi administrado com grande variedade e quantidade de medicamentos para a lesão.

O preso revelou que, durante a sua extração dentária, o dentista usou ferramentas médicas não estéreis, e que ele podia ver os traços de sangue nas ferramentas. A hepatite C é uma doença infecciosa que pode ser transmitida via equipamentos médicos não-estéreis, do mesmo modo como Halahleh acredita que tenha contraído a doença.

O palestino ainda acrescentou que foi transferido para a prisão de Ofer, em 8 de maio de 2013, quando então encontrou o médico que lhe deu os resultados dos testes realizados na prisão de Askalan, que indicavam a hepatite.

Agora, além das dores nas costas, dos problemas dentários e oftalmológicos, Halahleh foi informado de que se a hepatite não for devidamente tratada, a doença poderia levá-lo à morte.

O médico recomendou que seu filho e sua esposa realizem o teste de Hepatue, a fim de confirmar que não sofrem da mesma doença e de que a responsabilidade é do sistema prisional israelense, caso seja comprovado que a transmissão tenha ocorrido durante o período de detenção .

De acordo com Halahleh , ele não estava sujeito a qualquer lesão ou exame de sangue que poderia ter transmitido o infecção, exceto para a operação dental, procedimento o qual não foi realizado com equipamento estéreis.

Atualmente, ele não recebe o medicamento que necessita para impedir que a hepatite se alstre pelo organismo. Durante sua prisão, Halahleh relata que as forças de ocupação israelenses (IOF) invadiram sua casa no dia 08 de abril de 2013, por volta de 1 da madrugada. O procedimento para a prisão foi extremamente brutal. Ele foi severamente espancado, perfurado várias vezes em seu olho esquerdo e atingido em todas as partes de seu corpo na frente de sua esposa e filhos. Os soldados o arrastaram para fora de casa, quando vendaram seus olhos e algemaram braços e pernas . Halahleh ainda teria sido agredido novamente antes de entrar no veículo militar. Dois soldados seguravam seus braços e batiam a cabeça de Halahleh contra o vídro do veículo. Em seguida, colocaram-no dentro do veículo militar e o levaram para o centro de detenção de Beit El. Chegaram ao centro de detenção por volta das 2h30. Lançaram o detido no chão e o abandonaram no frio até 7h.

O detido também foi submetido a agressões e ameaças, quando soldados diziam que haviam pensado em matá-lo. Depois das 7h Halahleh foi transferido para o centro de detenção de Al-Moskobiyeh, em Jerusalém. Durante a transferência, eles dirigiram muito rapidamente e parava de repente, a fim de fazer Halahleh cair dentro do carro. Ao ouvir os pedidos de Halahleh para que cessassem e desistissem, os soldados riam e o insultavam. Quando chegaram em Al-Moskobiyeh, Halahleh foi agredido novamente.

Halahleh acrescentou que ele passou dois dias em Al -Moskobiyeh e foi então transferido para a prisão de Askalan, onde foi imediatamente levado ao interrogatório. Ele foi mantido em interrogatório continuo, 24 horas por dia, dia e noite . Durante este tempo, a ele foi dado periodicamente apenas 10 minutos para comer e descansar. Toda vez em que ele caía no sono durante o interrogatório, como resultado de sua fadiga extrema, o interrogador o acordava gritando e batendo na mesa.

É importante notar que Thaer Halahleh foi libertado anteriormente, há 10 meses atrás, depois de realizar uma greve de fome contínua durante 77 dias em protesto contra a sua detenção administrativa.
Ele é casado e tem uma filha (Lamar), de 2 anos. Seu advogado, Fares Ziyad, acrescentou que Halahleh será levado perante o tribunal militar de Ofer em 27 de Maio de 2013.

A Addameer denuncia o descaso lamentável e a negligência médica deliberada médica a que Thaer Halahleh tem sido submetido, bem como a tortura cruel e sistemática que ele vem sofrendo nas mãos dos soldados israelenses e interrogadores. A Addameer exige que as Nações Unidas, a Cruz Vermelha Internacional e a Organização Mundial de Saúde intervenha imediatamente em nome dos prisioneiros doentes e investiguem a natureza de suas doenças, bem como as condições de suas detenções. A Addameer apela ainda para que haja pressão sobre o Estado ocupante a fim de acabar com a política de negligência médica nas prisões israelenses

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